SÃO PAULO – A aldeia Takuya da Terra Indígena Xipaya no Xingu, inaugura um novo equipamento de secagem de tecidos, fruto de uma parceria entre o LIRA/IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, a Associação Indígena Aldeia Tukaya – AITEX, a Mercur, empresa brasileira de inovação e responsabilidade social, e a Bossapack, que produz mochilas e bolsas artesanais sustentáveis. A vulcanizadora representa um avanço tecnológico que trará vários benefícios para a comunidade local.
Feita de alumínio e plástico termoplástico, a vulcanizadora acelera a secagem de tecidos encauchados (produzidos combinando uma técnica indígena antiga, que desidrata o látex, com tecnologia científica industrial moderna), usando, principalmente, energia solar. Primeiro, o látex natural extraído das seringueiras é aplicado sobre o algodão orgânico. Em seguida, esse algodão revestido de látex passa por uma desidratação, um método que seca e endurece o látex, tornando o tecido flexível, durável e resistente à água. Esses tecidos resultantes são chamados de encauchados e são ideais para fazer produtos como mochilas e bolsas sustentáveis, por serem fortes e resistentes às condições climáticas.
A estufa da vulcanizadora reduz o tempo de secagem de nove dias para um. “Isso aumenta a capacidade de produção e proporciona mais estabilidade econômica para a comunidade”, afirma Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ. “A chegada da vulcanizadora na aldeia Tukaya exemplifica a Amazônia 4.0 em ação”, diz Cláudio Martins, sócio-fundador da Bossapack.
Impactos econômicos e sociais
Anteriormente, os indígenas recebiam R$ 4,25 por litro de látex em sua forma bruta, vendida em blocos. Com a vulcanizadora, o látex é transformado em tecidos encauchados de alta qualidade, atingindo R$ 64 por litro, devido ao uso desses tecidos em produtos artesanais.
O projeto envolve 30 pessoas, principalmente jovens entre 16 e 26 anos, criando oportunidades de emprego e desenvolvimento de habilidades. A inclusão das mulheres na pintura dos tecidos promove a inclusão social e econômica, oferecendo novas fontes de renda e fortalecendo suas posições na comunidade.
A pintura dos tecidos encauchados é realizada por mulheres da comunidade, utilizando pigmentos naturais como o urucum. As mochilas produzidas são duráveis, resistentes à água e sustentáveis, refletindo a herança cultural e artística da aldeia Tukaya. Cada mochila carrega um QR code, conectando os consumidores à história e ao processo de produção, valorizando as tradições e práticas sustentáveis da comunidade.
Estradas da borracha
A produção de látex ajuda a conservar a floresta. Cada estrada de seringa necessita de 150 hectares de mata preservada ao seu redor. No projeto da aldeia Tukaya, 12 estradas foram utilizadas, resultando na proteção de 1800 hectares de floresta. Além disso, a colheita de urucum para pigmentos naturais incentiva a manutenção de áreas florestais adicionais. “Nossa ideia é expandir o modelo para outras aldeias, mantendo a sustentabilidade e a inclusão social”, afirma Cláudio.
O sucesso da iniciativa deve-se ao apoio do LIRA/IPÊ e da Mercur, por meio do “Projeto Estufa Solar”, que promove a cadeia sustentável da borracha na Amazônia, integrando saberes ancestrais na produção de tecidos encauchados. A Bossapack utiliza esses tecidos para criar mochilas e bolsas artesanais, vendendo-as no Brasil e no exterior. “Este projeto fortalece a conservação cultural e ambiental, promovendo a sustentabilidade e a continuidade das tradições, levando o Brasil para o mundo”, diz Fabiana.
O papel do LIRA
Fundado pela bióloga Fabiana Prado, o LIRA/IPÊ é uma força motriz na conservação da Amazônia. Com um investimento de R$ 46 milhões em quatro anos, colaborou com mais de 125 organizações, beneficiando 52 mil pessoas e conservando 58 milhões de hectares de floresta. É o maior projeto de OSC do Fundo Amazônia e o segundo maior projeto de conservação da Amazônia.
O financiamento de R$ 80 mil feito pelo LIRA/IPÊ, por meio do Fundo LIRA, permitiu a construção da estufa e oficinas na aldeia, garantindo que o equipamento fosse de propriedade dos indígenas. “O apoio do LIRA foi fundamental para transformar esta visão em realidade, garantindo um futuro mais próspero e sustentável para a comunidade indígena da Amazônia”, diz Cláudio. “A colaboração entre tradição e inovação tecnológica faz deste projeto um exemplo de sustentabilidade e inclusão”, afirmou Fabiana.
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