Por Equipe ONB – 24/07/2024
Comunidades amazônicas estão mudando suas realidades com projetos inovadores que transformam árvores caídas na floresta em obras de arte, móveis e produtos de alto valor. Entre as iniciativas, o Ateliê da Floresta e a Movelaria Comunitária Sustentável, projetos que, com o apoio do LIRA/IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, criam novas oportunidades, geram renda e contribuem para um futuro mais sustentável na Amazônia.
“Essas iniciativas exemplificam como é possível aliar conservação ambiental com desenvolvimento econômico, proporcionando benefícios tanto para a floresta quanto para os habitantes locais”, afirma Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas que se dedica à conservação da floresta e ao desenvolvimento de negócios comunitários na região amazônica.Inaugurado em 9 de junho de 2024, o Ateliê da Floresta, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, Acre, transforma resíduos de madeira em arte, móveis e utensílios, criando uma nova fonte de renda e orgulho para a comunidade. O projeto surgiu da vontade e visão de futuro de Raimundo Mendes de Barros, conhecido como Raimundão, e sua comunidade, composta por grandes lideranças do movimento agroextrativista acreano. A concretização veio com o projeto Nossabio – Territórios Conservados, da SOS Amazônia, apoiado pelo LIRA/IPÊ, focado em fortalecer cadeias produtivas da sociobiodiversidade e a governança de áreas de conservação.
O Ateliê se destacou desde a primeira exposição, recebendo encomendas de galerias em Manaus e São Paulo. Construído pela SOS Amazônia, em parceria com a Amoprex (Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri) e apoio do LIRA/IPÊ, o Ateliê não só gera renda, mas também conserva a floresta, mantendo vivos os ideais de Chico Mendes. “Me chamaram de gagá, de velho doido com ideias mirabolantes, assim como chamaram Chico Mendes. Ele sonhava que um dia os caboclos fossem considerados iguais aos da cidade. Só porque nascemos no mato, não temos os mesmos direitos?”, disse Raimundão, da AMOPREX, na inauguração.
Para desenvolver o projeto, foram realizados encontros com a comunidade, capacitação de artesãos, oficinas de gestão e associativismo, consultoria de mercado, aquisição de ferramentas e maquinários, criação de um manual de identidade visual e obtenção de licenciamento para uso sustentável da madeira. O ICMBio licenciou 50 metros cúbicos de madeira de 20 espécies diferentes.
“O Ateliê da Floresta é um símbolo de luta e persistência de 14 anos, representando um sonho realizado para nossa comunidade e serve como exemplo para outras, mostrando que a floresta em pé vale muito mais. Trabalhamos com resíduos florestais, transformando-os em artesanato que conta nossa história de luta e conservação. Este projeto já está gerando recursos e tem grande expectativa de gerar renda significativa para cada família envolvida”, conta Rogério Azevedo de Barros, filho de Raimundão.
“A iniciativa atraiu principalmente jovens e mulheres, o que é muito positivo. Atualmente, o ateliê envolve 18 famílias, mas a intenção é expandir gradualmente. Para isso, será fundamental mais investimento em formação, gestão e manutenção de relações justas com o mercado. Esses são os próximos passos”, afirma Adeilson Lopes, coordenador técnico da SOS Amazônia.Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó-Açú, um novo capítulo de esperança e inovação se abriu com a inauguração da Movelaria Comunitária Sustentável. Inaugurada em maio de 2024, o empreendimento é coordenado pela Cooperativa de Manejadores do Igapó-Açú (Coopmaia), e exerce um papel chave no desenvolvimento sustentável da região, transformando madeira manejada de forma sustentável em móveis e outros produtos de alto valor.
“A movelaria na RDS Igapó-Açú não só melhora a economia local, mas também valoriza a educação e o envolvimento dos jovens, transformando o antigo sentimento de vergonha de ser do interior em orgulho. Agora, os moradores podem comprar janelas e móveis localmente, algo antes inacessível. A criação da movelaria foi difícil e exigiu muito esforço da comunidade, mas com determinação, as coisas começaram a mudar. Situada na BR-319, é a única movelaria da região que utiliza madeira de manejo florestal beneficiada. A equipe continua a se organizar, e a comunidade está confiante de que esse é apenas o início de um futuro próspero, trazendo mais desenvolvimento e orgulho para todos”, diz Doracy Dias – presidente da COOPMAIA (Cooperativa dos Manejadores DO Igapó- Açú).
Parte do projeto Cidades Florestais Madeira-Purus, a criação da movelaria só foi possível graças à colaboração entre as instituições IDESAM – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, ONG Casa do Rio e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA), com apoio financeiro do LIRA/IPÊ. Além dos profissionais do design, Frederico Felipe, artista e articulador comunitário, e Rodrigo Silveira, designer marceneiro, que deixam ideias e protótipos para a comunidade produzir de forma autônoma.
“A movelaria é uma importante conquista para as comunidades, possibilitando a agregação de renda por meio da fabricação de pequenos objetos de madeira manejada, com maior valor agregado e facilidade de transporte. Junto com a comunidade, optamos por um produto escalável, fácil de fabricar e que utilize pouca matéria-prima, sem depender de fatores externos. Construída pelos próprios moradores, essa movelaria representa a garra e o protagonismo da comunidade, prometendo bons frutos para todos”, diz Marcus Biazzatti, coordenador técnico do IDESAM.
Como o LIRA apoia o desenvolvimento sustentável na Amazônia
Fundado pela bióloga Fabiana Prado, o LIRA/IPÊ tem como missão aprimorar os esforços de conservação no bioma amazônico, financiando projetos de impacto socioambiental, promovendo a geração e disseminação de conhecimento, e apoiando políticas públicas voltadas para a conservação da Amazônia e resiliência climática.
Desde sua fundação, o LIRA/IPÊ colaborou com mais de 125 organizações em cinco estados, gerenciando 50 projetos em 59 áreas protegidas. A iniciativa busca não apenas conservar a floresta, mas também integrar e gerar conhecimento e engajar mulheres para maior protagonismo – que desempenham um papel fundamental no tecido socioeconômico da região. Foram mais de 58 milhões de hectares de floresta conservados, com benefício direto a 52 mil pessoas em 62 municípios. Um investimento de R$ 46 milhões, aplicado durante quatro anos em projetos de impacto que promovem práticas socioambientais. O LIRA/IPÊ é o maior projeto de OSC (Organização da Sociedade Civil) do Fundo Amazônia e o segundo maior projeto de conservação da Amazônia. O LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica é uma iniciativa integrativa que potencializa ações de conservação da Amazônia, através de três componentes: 1) Fundo LIRA que financia projetos socioambientais com povos e comunidades tradicionais; 2) Gestão do Conhecimento e Inovação; e 3) Políticas Públicas socioambientais. Articula uma rede de 125 organizações com atuação em 5 estados com bioma Amazônico, através da execução de 50 projetos em 59 áreas protegidas (terras indígenas e unidades de conservação) – promovendo conservação da biodiversidade, o bem viver de povos e comunidades tradicionais e resiliência climática. Executor: IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. Parceiros Financiadores: Fundo Amazônia e Gordon and Betty Moore Foundation. Parceiros Institucionais: Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amazonas – SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará – IDEFLOR-Bio.Mais informações: https://lira.ipe.org.br/